Faz hoje oito dias que lhe disse adeus e lhe fechei os olhos, que olhei para o seu rosto e lhe sussurrei "bom descanso, minha querida", depois de horas de grande sofrimento.
Faz hoje oito dias que me despedi de (mais) uma das minhas pessoas, minha tia de coração, Escorpiã como eu e um dos meus amores, que adorava provocar-me (quase sempre por causa dos meus gatos, animais pelos quais não nutria grande simpatia) e fazer-me arroz-doce.
Faz hoje oito dias que lhe disse "até já, minha Maria" e prometi voltar no dia seguinte, para dizer que "sim senhor, é a minha tia" e acompanhá-la até à igreja onde ficámos até à noitinha a fazer-lhe companhia, a ela que sempre nos acompanhou e que, até ao fim, nos susteve de crermos no inevitável com o seu bom humor, as suas piadas bem-dispostas, a sua pessoa.
Faz hoje oito dias que os meus olhos secaram e eu não mais chorei, apesar de todos os dias as lágrimas me percorrerem por dentro, toldarem os meus pensamentos e me deixarem sem vontade de pegar em agulhas, linhas ou tesouras, objectos que tantas recordações me trazem também da minha Maria, uma das maiores entusiastas com os trabalhinhos feitos e aqui publicados.
Faz hoje oito dias que morreu (mais) uma parte de mim. E estou triste.
Até sempre, minha Maria.
Rosália.